Governo quer regulamentar greve no
serviço público
Nos próximos dias o
governo inicia uma série de reuniões para elaborar projeto de lei de
regulamentação do direito de greve dos servidores públicos. A informação foi
passada hoje (3) pelo secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Trabalho, Manoel Messias Melo, em audiência pública na Comissão de Direitos
Humanos do Senado.
O debate ocorre na
semana em que aproximadamente 250 mil servidores públicos federais, ligados à
Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), retornam
ao trabalho depois de cerca de dois meses em greve. Eles aceitaram os 15,8% de
reajuste propostos pelo governo. O presidente da comissão, Paulo Paim (PT-RS),
disse que pode pedir a relatoria do projeto de lei que tramita na comissão para
evitar que prosperem tentativas de restrição das conquistas asseguradas pela
Constituição Federal de 1988. “Direito de greve é uma coisa, querer proibir
direito de greve é outra. Direito de greve é direito de todos e agora não cabe
querer retirar essa conquista dos trabalhadores.”
O secretário disse
que, durante os debates, serão chamados representantes sindicais para tentar
formular um texto compatível com as reivindicações pleiteadas pela categoria.
Antes, porém, o governo terá que fechar um texto comum, pois existem duas
minutas de projeto de lei apresentadas pelos ministérios do Planejamento e do
Trabalho.
Ele reconheceu que
“alguns pontos” da proposta de regulamentação serão difíceis de negociar, mas
precisam ser enfrentados. O secretário destacou, por exemplo, a necessidade de
proibir policiais de usarem armas quando entram em greve.
Outra polêmica que
pode gerar debates intensos entre governo e trabalhadores deve ser a
regulamentação da greve dos servidores públicos em serviços essenciais. Messias
se mostrou contrário ao teor de todos os projetos sobre o tema que tramitam no
Congresso desde 1991.
O direito de greve
foi defendido por todos os representantes sindicais que participaram da
audiência pública. “A maioria dos projetos que tramitam no Congresso restringe
o direito de greve”, disse o representante da Central Sindical e Popular
(CSP-Conlutas), Paulo Barela.
O sindicalista
acrescentou que o projeto de lei que tramita na Comissão de Direitos Humanos,
de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira, restringe a greve no serviço
público a 50% do funcionalismo. Além disso, segundo ele, em serviços
essenciais, apenas 20% do total dos servidores poderiam paralisar as
atividades. “Isso é draconiano”, disse Barela.
Aloysio Nunes, que
não estava na audiência, disse que o comunicado da reunião da comissão chegou
na sexta-feira (31) a seu gabinete, quando ele já estava em São Paulo. No
encerramento da audiência, Paim disse que pedirá ao senador Aloysio Nunes que
retire seu projeto de tramitação.
Ao tomar
conhecimento das “críticas” ao seu projeto por parte dos sindicalistas, Aloysio
Nunes enviou a Paim ofício defendendo a regulamentação da lei de greve. “O que
nós, os senadores, temos que fazer é legislar, pois há 24 anos a Constituição
Federal e a sociedade reclamam uma lei que estabeleça as modalidades e os
limites para o exercício do direito de greve dos servidores públicos."
O presidente da
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Álvaro
Solón de França, destacou que o servidor público “não quer fazer nada que
prejudique a população”. Entretanto, ressaltou a necessidade de o governo
definir a recomposição das carreiras públicas.
O representante do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições
de Ensino Superior (Andes) Luiz Henrique Schuch frisou a necessidade de
servidores públicos e governo avançarem no debate de reestruturação das
carreiras. Ele disse que há uma evidente possibilidade de “retrocesso” no que
foi conquistado na constituinte de 1988, com a chancela parlamentar.
Marcos Chagas, da Agência Brasil
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