quarta-feira, 5 de junho de 2013

Especialistas discutem o que é necessário para que os professores sejam autoridades da Educação

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff afirmou que só existirá ensino de qualidade se os professores forem tratados como verdadeiras autoridades da Educação. Isso significa garantir o acesso à formação continuada e à remuneração adequada.
NOVA ESCOLA convidou alguns especialistas em Políticas Públicas para discutir quais são os passos necessários para que a Educação brasileira avance e os professores sejam mais valorizados.
E você? O que pensa sobre os avanços da Educação no Brasil? Responda à nossa ENQUETE ouescreva o seu comentário, no final desta página.




Juca Gil
Professor de Políticas Educacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
"Para os professores reassumirem o papel de autoridade eles precisam ser respeitados e não tratados como inimigos, relapsos ou incapazes. Os pontos indicados pela Presidente são essenciais, como formação continuada e remuneração, mas precisam estar inseridos num contexto em que haja, dentre outros aspectos, condições físico-materiais dignas e número máximo de alunos por turma, só obtidos com mais recursos financeiros - daí ser prioridade absoluta atingirmos a aplicação de 10% do PIB em Educação.
A configuração de um Sistema Nacional de Educação, com instâncias de gestão democrática, hoje inexistentes, seria um legado inestimável. Os estados e municípios precisam ser fortalecidos em sua capacidade de administração. As escolas, por sua vez, devem se tornar efetivamente autônomas do ponto de vista político-pedagógico. É preciso acreditar, de fato, em sua capacidade de atuação e propiciar apoio e incentivos para elas se aperfeiçoarem com base em suas realidades concretas.
Por fim, as avaliações em massa devem ser colocadas no seu devido lugar. Hoje elas são custosas demais e conformam o núcleo das ações do MEC, o que é um equívoco. Saber se a Educação está ruim ou muito ruim não muda a realidade. É preciso atuar para alterar a situação."


Dermeval Saviani
Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em História da Educação

"Precisamos instituir uma carreira para os profissionais da Educação, aumentando significativamente o valor do piso salarial dos professores e estabelecendo a jornada de tempo integral em uma única escola com, no máximo, 50% do tempo em sala de aula para que os professores tenham tempo para preparar aulas, avaliar a aprendizagem dos alunos, relacionar-se com a comunidade, além de participar da elaboração e da implementação do Projeto Político-Pedagógico da escola.
Paralelamente é preciso criar uma rede pública consistente de formação de professores ancorada nas universidades públicas. Isso é indispensável para corrigir uma grande distorção do processo de formação docente no Brasil. Hoje, a maioria dos docentes que atuam nas redes públicas de Educação Básica do país é formada em instituições particulares de ensino superior de qualidade duvidosa. É preciso criar uma rede publica de formação docente em regime de colaboração entre a União e os estados para assegurar o preparo adequado dos professores que irão atuar nas escolas públicas de Educação Básica. Ao mesmo tempo será necessário instituir mecanismos destinados a atrair os jovens mais talentosos para a carreira do magistério.
Outro ponto importante é a questão do financiamento. É necessário aumentar significativamente e de forma imediata os recursos destinados à Educação. Deve-se evitar a prática usual de diluir a meta de elevação dos gastos ao longo do tempo, geralmente definido em dez anos. Nesse aspecto cabe constatar que, infelizmente, não estamos começando bem. Isso porque a proposta de Plano Nacional de Educação (PNE) enviada pelo MEC ao Congresso Nacional prevê atingir, ao longo dos dez anos de vigência, o índice de 7% do PIB. Ora, essa meta foi fixada no atual PNE aprovado em 2001 para ser atingida em 2010. O aumento de recursos certamente não é uma condição suficiente, mas é, inegavelmente, condição prévia, necessária e indispensável. Esperemos, então, que a presidenta Dilma reverta a meta de 7% enunciada no projeto de PNE e destine para a Educação, já no orçamento de 2012, o índice de 10% do PIB aprovado por unanimidade na Conferência Nacional de Educação (CONAE) no início de abril de 2010. Com essa decisão ela estará tomando uma medida de impacto."

Fonte:http://revistaescola.abril.com.br

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