Efeitos da crise autoridade familiar: cresce número de professores afastados por problemas psicológicos
Profissionais revelam que ameaça de agressão gera rotina de estresse 15 % das licenças médicas foram concedidas aos profissionais da educação
Diz o ditado popular que o
trabalho dignifica o homem. Porém, em alguns casos, ele também pode causar
estresse ou distúrbios psicológicos. Segundo dados da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), profissões como médico e professor estão entre as mais desgastantes
gerando uma alta incidência de licença por afastamento. A pesquisa que mostra o
retrato do educador brasileiro, feita pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores, revela que cerca de 20% dos professores pediram afastamento por
licenças médicas. Em cada licença, o educador fica em média três meses fora da
sala de aula. Em Alagoas essa realidade é bastante comum. De acordo com a
superintendente da Perícia Médica do Estado de Alagoas, Marilourdes Monteiro,
de janeiro a outubro de 2012, foram concedidas 7.891 licenças médicas aos
profissionais que trabalham no Estado e, estima-se que, pelo menos 15 % delas
foram concedidas aos profissionais da educação. Em todas as profissões, 22,54%
dos profissionais são afastados por transtornos psiquiátricos. Para a
vice-presidente do Sindicato dos Profissionais da Educação de Alagoas, Girlene
Lázaro, o aumento dessa estatística esta diretamente ligada a mudança cultural
em sala de aula. “A dinâmica educacional mudou e os alunos já não têm o mesmo
respeito que tinham em relação ao professor em outros tempos. As condições de
trabalho são precárias, o salário é baixo e tudo isso influi”, frisou. Sintomas
De acordo o chefe da Unidade de Atenção à Saúde do Núcleo de Qualidade de Vida
da Secretaria de Educação do Estado, Júlio César Nascimento, o afastamento do
professor, pode comprometer a qualidade de vida deste profissional,
comprometendo o ensino na rede pública. Os sintomas mais frequentes de
afastamento são: problemas na voz e transtornos psiquiátricos. “Nosso Núcleo
foi criado há dois anos e já atendemos muitos professores. A principal queixa
desses profissionais é o desgaste da voz. Em seguida, o estresse. Eles reclamam
que a rotina é complicada e que muitas vezes são ameaçados. Nós os acolhemos e
encaminhamos para especialistas. Na maioria dos casos, eles voltam para a sala
de aula”, revelou Nascimento. Pressão
Cinco licenças - Esse é o número de vezes que uma professora que
trabalha em três escolas estaduais foi afastada das suas atividades. Ela ensina
há 16 anos e revela que a rotina é estressante. “Mal vejo a hora de me
aposentar. Já tive problemas na voz e fui ameaçada várias vezes pelos alunos. É
muito humilhante, nós professores ganhamos pouco e ainda temos que nos submeter
a isso”, desabafa a educadora que prefere não ser identificada. E os casos de
violência não pararam por ai. Outra professora que também prefere ter a
identidade preservada revela que, além de ser agredida verbalmente, por pouco
não foi agredida fisicamente por uma aluna de 17 anos. “Ela nunca compareceu às
minhas aulas. Só vim conhecê-la no último dia quando estava entregando as
últimas notas. Ela veio dizer que tomava remédios controlados e que por isso
não estava indo para a escola. Eu disse que não poderia fazer nada e ela me
xingou bastante. Sai no meio da aula e não voltei”, relembrou a professora. A
professora disse ainda que pediu para sair da escola temendo novas agressões.
“Naquela escola eu não coloco mais os pés. Se soubesse que passaria por isso,
não tinha escolhido essa profissão. Acho sublime você poder contribuir na
formação de um profissional, mas não vale a pena”, desabafou.
Mudança - A Escola Estadual Geraldo de Melo dos Santos viveu em 2012
um período marcado pela violência. No mês de setembro a escola registrou um
incêndio criminoso que acarretou na destruição de parte da estrutura da
instituição. Além disso, traficantes da região ordenaram o fechamento da escola
durante alguns dias e professores chegaram a ser ameaçados. Após o ocorrido, o
Governo do Estado decidiu implantar um sistema de policiamento mais rigoroso
nas proximidades da escola, adotando inclusive a revista dos alunos. O
secretário de Promoção da Paz, Jardel Aderico, confirmou que a prática ainda
está sendo realizada, mas com menor intensidade. Segundo a diretora da escola,
Irineide de Araújo, após todo o histórico de violência, a unidade deu a volta
por cima. “Tivemos um aumento de 200% no número de matrículas e 30 alunos
conseguiram boas notas no ENEM e garantiram uma vaga na universidade pública.
Estamos trabalhando com o jovem para que ele entenda que eles precisam do
professor”, disse.
editor Saúde&Previdência
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