Formação ruim inibe inscrição em vestibular
Pouco
mais da metade das escolas da rede pública de Campinas não teve um único aluno
inscrito no vestibular da Unicamp, que é sediada na cidade, em 2008 e 2009.
A constatação foi feita
por Maurício Kleinke, coordenador da comissão de vestibular da universidade,
enquanto planejava o curso preparatório da Unicamp para ingresso na graduação,
destinado a alunos de escola pública.
Para Kleinke, "o
forte aumento no número de vagas nas universidades públicas nos últimos anos
não foi acompanhado por crescimento da quantidade de alunos que saem das
escolas públicas com formação de qualidade alta para poder competir".
Segundo especialistas,
essa realidade colabora para que a parcela dos estudantes que não se inscrevem
nos vestibulares das principais universidades -mesmo com a adoção de políticas
afirmativas, como cotas e bônus-- permaneça alta.
"Quando cotas são
estabelecidas, não se pode achar que a universidade sozinha vai resolver os
problemas de ensino do país", diz Lená Medeiros de Menezes, sub-reitora de
graduação da UERJ.
Economistas que estudam
educação, como Reynaldo Fernandes, da USP, e Naercio Menezes, do Insper
(Instituto de Ensino e Pesquisa) ressaltam que o aluno coloca na balança suas
chances de ser aprovado.
"Se eu acho que não
tenho a menor chance de entrar na USP, nem vou tentar. Mas isso não é
necessariamente uma confissão de que eu não gostaria de estar lá", afirma
Fernandes, que é ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais ligado ao Ministério da Educação).
Um possível indicador de
que a vontade de ingressar no ensino superior é muitas vezes atropelada pela
realidade é o número dos que se inscrevem no Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio), mas não vão fazer a prova.
O percentual de faltosos
entre os que estão concluindo o ensino médio na rede pública foi de 17% em
2011, mais do que três vezes superior ao registrado entre estudantes de escolas
privadas (4%).
Os dados foram levantados
pela Meritt, empresa de consultoria em educação, a pedido da Folha. A inscrição
para alunos da rede pública no Enem é gratuita.
"Esses alunos das
públicas que se inscrevem e não vão [ao exame] demonstram alguma esperança de
fazer ensino superior. Mas provavelmente depois pesam suas chances, o custo de
ir fazer a prova e desistem", diz Naercio Menezes, do Insper.
MERCADO DE TRABALHO
O aquecimento do mercado
de trabalho também pode ter contribuído para enfraquecer a busca de alunos da
rede pública pelos vestibulares de algumas das principais universidades do
país.
"Pode ter
contribuído. Aumentou o número de jovens que só trabalham. Mas acho que o que
mais pesa é a expectativa do jovem", afirma Menezes. (ÉRICA FRAGA)
Fonte: Folha de São Paulo
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