segunda-feira, 25 de março de 2013


Formação ruim inibe inscrição em vestibular


Pouco mais da metade das escolas da rede pública de Campinas não teve um único aluno inscrito no vestibular da Unicamp, que é sediada na cidade, em 2008 e 2009.

A constatação foi feita por Maurício Kleinke, coordenador da comissão de vestibular da universidade, enquanto planejava o curso preparatório da Unicamp para ingresso na graduação, destinado a alunos de escola pública.

Para Kleinke, "o forte aumento no número de vagas nas universidades públicas nos últimos anos não foi acompanhado por crescimento da quantidade de alunos que saem das escolas públicas com formação de qualidade alta para poder competir".

Segundo especialistas, essa realidade colabora para que a parcela dos estudantes que não se inscrevem nos vestibulares das principais universidades -mesmo com a adoção de políticas afirmativas, como cotas e bônus-- permaneça alta.

"Quando cotas são estabelecidas, não se pode achar que a universidade sozinha vai resolver os problemas de ensino do país", diz Lená Medeiros de Menezes, sub-reitora de graduação da UERJ.

Economistas que estudam educação, como Reynaldo Fernandes, da USP, e Naercio Menezes, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) ressaltam que o aluno coloca na balança suas chances de ser aprovado.

"Se eu acho que não tenho a menor chance de entrar na USP, nem vou tentar. Mas isso não é necessariamente uma confissão de que eu não gostaria de estar lá", afirma Fernandes, que é ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais ligado ao Ministério da Educação).

Um possível indicador de que a vontade de ingressar no ensino superior é muitas vezes atropelada pela realidade é o número dos que se inscrevem no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas não vão fazer a prova.

O percentual de faltosos entre os que estão concluindo o ensino médio na rede pública foi de 17% em 2011, mais do que três vezes superior ao registrado entre estudantes de escolas privadas (4%).

Os dados foram levantados pela Meritt, empresa de consultoria em educação, a pedido da Folha. A inscrição para alunos da rede pública no Enem é gratuita.

"Esses alunos das públicas que se inscrevem e não vão [ao exame] demonstram alguma esperança de fazer ensino superior. Mas provavelmente depois pesam suas chances, o custo de ir fazer a prova e desistem", diz Naercio Menezes, do Insper.

MERCADO DE TRABALHO
O aquecimento do mercado de trabalho também pode ter contribuído para enfraquecer a busca de alunos da rede pública pelos vestibulares de algumas das principais universidades do país.

"Pode ter contribuído. Aumentou o número de jovens que só trabalham. Mas acho que o que mais pesa é a expectativa do jovem", afirma Menezes. (ÉRICA FRAGA)

Fonte: Folha de São Paulo

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