terça-feira, 6 de agosto de 2013

NA CONTRAMÃO DO CLAMOR DAS RUAS

Depois de sepultar o Plebiscito proposto pela presidente Dilma, para elaborar a Reforma Eleitoral, a Câmara dos Deputados protagonizou, no retorno do recesso, mais um episódio que está na contramão das reivindicações reclamadas pelos protestos de junho.

O Jornal ZH, na sua edição de 02 de agosto, traz a manchete: “Pacote prevê afrouxar a Lei Eleitoral”. A mini-reforma eleitoral proposta, foi elaborada pelos líderes das principais bancadas, que constituem a comissão criada pela Câmara, para discutir a Reforma, e está pronta para ser votada. O inacreditável é que ela diminui punições a candidatos, reduz a fiscalização das contas, derruba restrições a doações, permitindo até que concessionários de serviços públicos possam doar, sem punição, desde que o dinheiro seja destinado ao Fundo Partidário. Os candidatos a presidente e governador estariam dispensados de protocolar na Justiça seus planos de governo, o que atualmente é exigido.


Vale lembrar que o deputado gaúcho Henrique Fontana, até recentemente, era o relator do projeto de Reforma Política, que foi engavetado pela Câmara. Para ele, o pacote se caracteriza como uma “anti-reforma”. Aliás, há mais de 15 anos o Congresso debate e não consegue votar uma reforma com mudanças estruturais. Para sair desta paralisia, a Presidente apresentou a proposta de Plebiscito, que foi descartada pelos deputados.
Fontana vinha realizando reuniões em diversos estados e municípios para ouvir as sugestões da sociedade, mas foi substituído pelo deputado Cândido Vacarezza, que coordena atualmente a comissão, que discute a Reforma Política.


Integrantes do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já declararam que consideram o projeto, como um afrouxamento à legislação.
Com a intenção de abrandar ainda mais a Lei Eleitoral, os deputados se colocam, mais uma vez, na contramão do que a sociedade reivindica. Grande parte dos representantes do povo está numa total falta de sintonia com seus representados.


Se a consulta popular fosse feita, a resposta a ser dada pelos brasileiros poderia transformar profundamente nossa política para melhor. O pior dos caminhos é manter tudo como está ou afrouxar ainda mais, as regras da Lei Eleitoral, como propõe o pacote, que está pronto para ser votado.


Temos um sistema cada vez mais dominado pelo poder econômico, injusto e que perde credibilidade a olhos vistos. Quem mais gasta na campanha, normalmente é quem se elege e, depois de eleito, fica refém de quem o financiou. Os partidos se transformaram em máquinas eleitorais, perdendo, na maioria dos casos, sua correlação com os movimentos sociais e com os trabalhadores.


O papa Francisco, em sua recente visita ao Brasil, afirmou em um de seus discursos, que é preciso “reabilitar a política”, através da ética e do diálogo. As manifestações de junho deixaram claro o descontentamento do povo com o modo como ela vem sendo praticada e exigem mudanças, porém, não há dúvida de que nossos representantes, na sua maioria, estão surdos à voz das ruas.


Marina Lima Leal, agosto de 2013

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