sexta-feira, 27 de julho de 2012

RS apresenta população de idosos que será igualada pelo país somente em 2020

Envelhecimento acelerado desafia cidades do Estado, que já tem 9,3% dos gaúchos com mais de 65 anos

Menos crianças correndo e brincando nos parques e mais pessoas de cabelos grisalhos circulando pelas ruas de bengala em punho. Esse é o cenário que se desenha para o Brasil de 2030. No Rio Grande do Sul, ainda antes.

Com 9,3% da população com 65 anos ou mais, os gaúchos já apresentam um padrão etário que o país como um todo só atingirá em 2020, conforme projeções preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2010.

Em países europeus, foram necessários mais de cem anos para que a porcentagem de idosos aumentasse de 7% para 14%, caminho que será percorrido pelo Brasil em apenas duas décadas.

O problema é que, por aqui, o envelhecimento da população anda mais rápido que o desenvolvimento econômico, desafiando as cidades — principalmente as gaúchas — a pensarem, desde agora, estratégias para adequar infraestrutura, serviços e produtos para uma geração que tem cada vez menos filhos e esperança de vida cada vez mais longa.

— Basta observar para perceber que nossas cidades e equipamentos não apresentam condições adequadas para a circulação de idosos — aponta Bibiana Graeff, doutora em Direito e professora de Direitos Humanos e Envelhecimento no curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).

A professora fará um painel na Conferência Internacional sobre Idoso, em Gramado, na segunda-feira, ao lado da arquiteta Maria Luisa Bestetti, especialista em gerontologia ambiental e também professora da USP. A discussão destaca o impacto da inversão da pirâmide etária nos espaços urbanos, exigindo transformações de ordem estrutural, mas também sociocultural.

— A imagem do idoso esperando o fim da vida, sem utilidade e até infantilizado já foi superada, embora ainda haja preconceito e pouco conhecimento sobre o processo de envelhecimento — comenta Maria Luisa.

Maturidade independente


Aos 88 anos, Sibylli Estermann não usa o elevador para subir os dois lances de escadas até o seu apartamento em um residencial de longa permanência na Capital. Faz pilates duas vezes por semana, vai ao shopping, caminha no parque e se comunica com os netos que vivem fora do país por e-mail.

— Sou muito independente — faz questão de enfatizar.

Para manter a autonomia, optou pelo residencial, que lhe garante apartamento privativo, com infraestrutura de atendimento especializado, caso lhe aconteça alguma coisa, o que, em quatro anos, ainda não foi necessário, segundo ela. Após a morte do marido, fazendeiro em Mato Grosso, ela vendeu a casa onde viviam e decidiu morar em Porto Alegre.

O dinheiro do imóvel a ajuda a sustentar o apartamento no residencial. Uma de suas filhas mora na Capital, mas viaja frequentemente para trabalhar, motivo que reforça a escolha pela casa geriátrica.

Investir em arranjos habitacionais desse tipo e preparar os profissionais para atuar nesses ambientes são algumas das demandas exigidas pelo contexto demográfico que se configura, impondo desafios para a regulamentação sanitária de estabelecimentos e consolidação de profissões como a de cuidador ou bacharel em Gerontologia. Mesmo na Medicina, a residência em geriatria ainda é escassa.

De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Estado, Marianela Hekman, cerca de 20 universidades brasileiras têm residência médica em Geriatria — apenas uma no Rio Grande do Sul. O total de geriatras no Estado não deve ultrapassar 60.

Conferência sobre o tema em Gramado


O debate sobre as demandas sociais impostas pelo envelhecimento da população terá lugar na Conferência Internacional sobre Idoso – Convivência, no Centro de Eventos Serra Park, em Gramado, de 29 a 31 de julho.

Conforme a coordenadora executiva da conferência, Elívia Kerstner, o diferencial do evento é que ele não tem caráter ocupacional, como a maioria dos congressos para idosos, mas reúne agentes políticos, profissionais de saúde, pesquisadores, empreendedores e os próprios idosos para promover discussões.

— A proposta surgiu da necessidade de reunir toda essa cadeia e despertar para a mudança de perfil da população, que exige uma adequação de produtos, serviços e políticas públicas — comenta Elívia.

Os painéis irão abordar temas estruturais, como assistência médica e gastos com saúde, o preparo das cidades para o envelhecimento e turismo para idosos, mas também abrirá o leque para assuntos do cotidiano, como moda para a terceira idade e dicas de segurança na internet para uma geração que descobriu as redes sociais na maturidade.

Entre as atrações artísticas, destaque para o show do cantor Fábio Júnior, no dia 29, atração escolhida a partir de pesquisa com o público-alvo, e a palestra motivacional sobre dança na terceira idade seguida de show com Carlinhos de Jesus, dia 30.

Serviço

— O quê: Convivência – Conferência Internacional sobre Idoso— Quando: 29 a 31 de julho
— Onde: Centro de Eventos Serra Park, em Gramado (Viação Férrea, 100 – bairro Três Pinheiros)
— Inscrições: até sábado,
pelo site
ou telefone (51) 3076-7002. A partir de domingo, no local
— Quanto: valor sob consulta, conforme programação desejada

Diário Gaúcho 

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