RS apresenta população de idosos que será igualada pelo país somente em 2020
Envelhecimento acelerado desafia cidades do Estado, que já tem
9,3% dos gaúchos com mais de 65 anos
Menos crianças correndo e brincando nos parques e mais pessoas
de cabelos grisalhos circulando pelas ruas de bengala em punho. Esse é o
cenário que se desenha para o Brasil de 2030. No Rio Grande do Sul, ainda
antes.
Com 9,3% da população com 65 anos ou mais, os gaúchos já apresentam um padrão
etário que o país como um todo só atingirá em 2020, conforme projeções
preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com
base no Censo 2010.
Em países europeus, foram necessários mais de cem anos para que a porcentagem
de idosos aumentasse de 7% para 14%, caminho que será percorrido pelo Brasil em
apenas duas décadas.
O problema é que, por aqui, o envelhecimento da população anda mais rápido que
o desenvolvimento econômico, desafiando as cidades — principalmente as gaúchas
— a pensarem, desde agora, estratégias para adequar infraestrutura, serviços e
produtos para uma geração que tem cada vez menos filhos e esperança de vida
cada vez mais longa.
— Basta observar para perceber que nossas cidades e equipamentos não apresentam
condições adequadas para a circulação de idosos — aponta Bibiana Graeff,
doutora em Direito e professora de Direitos Humanos e Envelhecimento no curso
de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).
A professora fará um painel na Conferência Internacional sobre Idoso, em
Gramado, na segunda-feira, ao lado da arquiteta Maria Luisa Bestetti,
especialista em gerontologia ambiental e também professora da USP. A discussão
destaca o impacto da inversão da pirâmide etária nos espaços urbanos, exigindo
transformações de ordem estrutural, mas também sociocultural.
— A imagem do idoso esperando o fim da vida, sem utilidade e até infantilizado
já foi superada, embora ainda haja preconceito e pouco conhecimento sobre o
processo de envelhecimento — comenta Maria Luisa.
Maturidade independente
Aos 88 anos, Sibylli
Estermann não usa o elevador para subir os dois lances de escadas até o seu
apartamento em um residencial de longa permanência na Capital. Faz pilates duas
vezes por semana, vai ao shopping, caminha no parque e se comunica com os netos
que vivem fora do país por e-mail.
— Sou muito independente — faz questão de enfatizar.
Para manter a autonomia, optou pelo residencial, que lhe garante apartamento
privativo, com infraestrutura de atendimento especializado, caso lhe aconteça
alguma coisa, o que, em quatro anos, ainda não foi necessário, segundo ela.
Após a morte do marido, fazendeiro em Mato Grosso, ela vendeu a casa onde
viviam e decidiu morar em Porto Alegre.
O dinheiro do imóvel a ajuda a sustentar o apartamento no residencial. Uma de
suas filhas mora na Capital, mas viaja frequentemente para trabalhar, motivo
que reforça a escolha pela casa geriátrica.
Investir em arranjos habitacionais desse tipo e preparar os profissionais para
atuar nesses ambientes são algumas das demandas exigidas pelo contexto
demográfico que se configura, impondo desafios para a regulamentação sanitária
de estabelecimentos e consolidação de profissões como a de cuidador ou bacharel
em Gerontologia. Mesmo na Medicina, a residência em geriatria ainda é escassa.
De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
no Estado, Marianela Hekman, cerca de 20 universidades brasileiras têm
residência médica em Geriatria — apenas uma no Rio Grande do Sul. O total de
geriatras no Estado não deve ultrapassar 60.
Conferência sobre o tema em Gramado
O debate sobre as demandas
sociais impostas pelo envelhecimento da população terá lugar na Conferência
Internacional sobre Idoso – Convivência, no Centro de Eventos Serra Park, em
Gramado, de 29 a 31 de julho.
Conforme a coordenadora executiva da conferência, Elívia Kerstner, o
diferencial do evento é que ele não tem caráter ocupacional, como a maioria dos
congressos para idosos, mas reúne agentes políticos, profissionais de saúde,
pesquisadores, empreendedores e os próprios idosos para promover discussões.
— A proposta surgiu da necessidade de reunir toda essa cadeia e despertar para
a mudança de perfil da população, que exige uma adequação de produtos, serviços
e políticas públicas — comenta Elívia.
Os painéis irão abordar temas estruturais, como assistência médica e gastos com
saúde, o preparo das cidades para o envelhecimento e turismo para idosos, mas
também abrirá o leque para assuntos do cotidiano, como moda para a terceira
idade e dicas de segurança na internet para uma geração que descobriu as redes
sociais na maturidade.
Entre as atrações artísticas, destaque para o show do cantor Fábio Júnior, no
dia 29, atração escolhida a partir de pesquisa com o público-alvo, e a palestra
motivacional sobre dança na terceira idade seguida de show com Carlinhos de
Jesus, dia 30.
Serviço
— O quê: Convivência – Conferência Internacional sobre Idoso— Quando: 29 a 31 de julho
— Onde: Centro de Eventos Serra Park, em Gramado (Viação Férrea, 100 – bairro
Três Pinheiros)
— Inscrições: até sábado, pelo site ou telefone (51) 3076-7002. A partir de
domingo, no local
— Quanto: valor sob consulta, conforme programação desejada
Diário Gaúcho
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