Adriana Thoma ressalta que questões culturais são fatores de exclusão
O
seminário A Prática Pedagógica como Desafio Constante, realizado pela
Secretaria Municipal de Educação (Smed) desde segunda-feira, abordou ontem o
tema da inclusão. Na palestra Educação Inclusiva e Aprendizagem, um Assunto
para Além da Educação Especial, a coordenadora do programa Incluir, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Adriana Thoma, disse que a
inclusão “não é boa nem ruim”. “Muitas pessoas podem ser incluídas em algum
programa e não se adaptarem, e, nesse caso, vão se sentir excluídas.”
“Os
padrões de exigência de uma cultura majoritária acabam entrando em todos os
espaços. Se uma pessoa com deficiência está em um ambiente onde todos exaltam
suas incapacidades, vai ter uma baixa autoestima e não irá utilizar todas as
suas potencialidades”, diz Adriana, que tem mestrado e doutorado em Educação
Especial.
Para
a coordenadora, a primeira etapa da inclusão é o processo de normalização, no
qual, por exemplo, um deficiente auditivo deve primeiro aprender a língua dos
sinais para estudar em uma escola que oferece esse serviço. Do contrário, será
excluído pelo próprio grupo. “Inclusão é a atual palavra de ordem, e, quando
falamos em inclusão, falamos em inclusão de conhecimentos, de espaço e de
acessibilidade.”
Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo 2010 apontou
que 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência - o maior
índice é para a deficiência visual. São esses números que impulsionam as
políticas públicas educacionais e sociais. A Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (Uergs) disponibiliza 10% das vagas para portadores de
deficiência.
O
Censo também indicou que a população negra e parda é maioria no País, com
50,7%. “A partir daí, os movimentos de negros começaram a reivindicar reserva
de vagas, por causa do alto índice dessa população. Esse é um fator que faz com
que as políticas de cotas sejam aprovadas”, ressalta.
Na
Ufrgs, o sistema de reserva de vagas destina 30% para os cotistas. Destes, 15%
são para alunos provenientes do ensino público e os outros 15% para negros.
Segundo Adriana, o índice de reprovação dos cotistas é muito alto devido à
falta de uma boa base escolar. Para solucionar esse problema, a universidade
implantou um esquema de aulas aos sábados com noções básicas de Matemática e de
interpretação de texto.
Questões
culturais são fatores predominantes no quesito exclusão. A coordenadora diz que
a sociedade instituiu, através dos tempos, estereótipos de que ”todo deficiente
tem problemas emocionais” e “somente as mulheres estão aptas a realizar tarefas
domésticas e artesanais”. Adriana afirma que os movimentos sociais precisam
romper com a lógica da exclusão e que muitas vezes existe a inversão de
valores, em que o oprimido passa a ser o opressor para não se sentir excluído,
como o caso de mulheres machistas e negros racistas.
“A
inclusão não é apenas uma questão legal de leis e de bases que garantam os
alunos nas escolas. Para funcionar é preciso alianças com pais e sociedade. A
mídia tem fator predominante nisso e as novelas estão trabalhando nesse
sentido, colocando personagens homossexuais, deficientes, negros.”
Fonte: Jornal do Comércio
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