Duas palestras abrem Conferência
Estadual de Educação
Duas palestras abriram na manhã desta sexta-feira 19, nas
dependências do hotel Embaixador, em Porto Alegre, a Conferência Estadual de
Educação promovida pelo CPERS/Sindicato. A programação continua à tarde com um
painel com a professora Elisabete Búrigo, que abordará o ensino médio.
No período da manhã, o professor e diretor do Sinpro Guarulhos,
Mauro Puerro, abordou a conjuntura nacional e o PNE. Em seguida, a doutora em
educação Vera Maria Vidal Peroni falou sobre a relação público-privada e as
consequências para a gestão democrática.
Puerro destacou o período histórico na relação capital e trabalho
em que estamos inseridos. Segundo o palestrante, trata-se de um período de
muita voracidade do capital em que as necessidades humanas não são supridas.
O professor enumera quatro elementos que exemplificam esse apetite
do capital: transferência de recursos públicos para o setor privado; redução
salarial e de direitos dos trabalhadores; demissões e aumentos de jornada; e
redução de investimentos no setor público.
Conforme Puerro, o neoliberalismo age em duas mãos com o movimento
sindical. O primeiro passo é a cooptação de sindicatos. Àqueles que não se
submetem ao processo de cooptação são criminalizados.
Sobre os investimentos em educação, Puerro frisa que o setor tem
recebido nos últimos anos cerca de 5% do seu PIB. Para o setor bancário o
aporte tem sido bem mais generoso, algo na casa dos 23%. Disse que um professor brasileiro deveria ter seu salário
reajustado em 60%, em média, para atingir um vencimento próximo ao de
profissionais de outras categorias com formação similar.
Destacou as metas que o governo não conseguiu cumprir, entre elas,
a redução em 50% da taxa de repetência e evasão, a implementação do piso
salarial, a matrícula de 30% dos jovens entre 18 e 24 anos em universidades
públicas, a universalização do ensino fundamental. Segundo ele, dois terços das
metas estabelecidas não foram atingidas.
Concluiu afirmando que apenas em 2030 o Brasil deverá ingressar na
faixa dos países que possuem menos de 30% de sua população em idade escolar.
Alertou para o fato de o Congresso Nacional ter aprovado o investimento de 7%
do PIB somente para 2017 e de 10% para 2023, incluindo nestes percentuais os
gastos com aposentados e hospitais universitários.
A doutora em educação Vera Peroni pautou sua intervenção com
críticas a intervenção do setor empresarial na educação. Disse que há uma certa
conformidade dos educadores com o intervencionismo praticado por institutos
empresarias apoiados pelos governos.
De acordo com ela, O PNDE escola é financiado com recursos do Banco
Mundial. Um projeto que começou nas regiões norte e nordeste do país, mas que
já se alastrou com certa naturalização para as demais regiões. “É a lógica do
mercado entrando nas escolas”, observa.
Esse processo, segundo a educadora, é histórico, mas que foi
rompido com a luta travada pela gestão democrática, que tem como parâmetro a
escola e não as empresas. “É preocupante quando um banco diz o que a escola tem
que fazer.”
Embora todos tenham o mesmo objetivo, Vera Peroni observa que
alguns institutos recebem dinheiro público para trabalhar nas escolas, outros,
no entanto, “compram” as escolas. O Unibanco, por exemplo, investe nas escolas
e cobra o cumprimento de metas.
Em muitos casos, essa prática tem aceitação de corpos diretivos e
de educadores porque o banco investe em reformas físicas e na aquisição de
equipamentos, mesmo que viole preceitos da gestão democrática.
Vera Peroni concluiu sua palestra afirmando os professores são
profissionais formadores de consciência crítica e não aqueles que trabalham com
materiais replicáveis.
Fotos: André Ávila
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