Jessica Gustafson, de São Paulo
A
cólica menstrual é conhecida por praticamente todas as mulheres que estão em
idade fértil. Por se tratar de um sintoma comum, muitas acabam não investigando
um dos principais sinais da endometriose - doença que afeta uma a cada dez
mulheres e que pode ter consequências graves, como a perda da fertilidade. Além
da falta de informação, existem poucas opções de tratamento, sendo o mais comum
a cirurgia para retirar as áreas mais afetadas.
Uma
pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia
Minimamente Invasiva (SBE) com cinco mil mulheres acima de 18 anos mostrou que
a maioria delas, em torno de 55%, não conhece os principais sintomas da
enfermidade e nem como é feito o diagnóstico. O método mais eficaz atualmente
para descobrir sua existência no útero é a laparoscopia.
“Fortes
dores abdominais e pélvicas e desconforto durante o ato sexual podem ser
indicadores da doença. A maioria das mulheres acaba tendo que se afastar com
frequência do trabalho e do estudo devido à dor. Além disso, existem estudos
que mostram a sua relação com problemas autoimunes e câncer”, explica o
presidente da SBE, Maurício Simões Abrão. De acordo com ele, algumas pesquisas
já relatavam queixas de mulheres sobre essas dores em 1739, contudo, apenas nas
últimas duas décadas é que os estudos têm se intensificado. Hoje, este é o
segmento mais analisado na área da ginecologia.
A
endometriose, que se caracteriza pelo acúmulo de sangue menstrual na cavidade
do abdômen e do útero, não tem cura, mas pode ser atenuada. Um dos principais
problemas é o diagnóstico tardio, que acontece, em média, sete anos depois do
seu surgimento. “As mulheres acham que os sintomas são normais e os médicos
acabam não realizando exames específicos. Tanto as pacientes quanto os
profissionais da saúde precisam de mais informação”, acredita Abrão. De acordo
com ele, os medicamentos utilizados têm o objetivo de melhorar a qualidade de
vida da mulher, pois, segundo a pesquisa, ela gera 38% de perda na
produtividade no trabalho.
Francisco
Carmona, chefe do Serviço de Ginecologia na Clínica e Hospital Barcelona, na
Espanha, afirma que é preciso um novo olhar sobre a endometriose, no qual os
médicos se preocupem mais com o bem-estar da mulher e com o controle da
reincidência da doença. “Todos os sintomas causam sofrimentos físicos e psicológicos.
Os diversos tratamentos existentes não combatem o reaparecimento. A perda da
saúde sexual também deve ser considerada, pois isso causa angústia e
ansiedade”, ressalta. Segundo ele, as pacientes acabam ficando com uma imagem
negativa de si mesmas, o que pode levar à depressão.
De
acordo com Carmona, o método mais comum de controle é a cirurgia. Entretanto,
após três anos, a paciente retorna ao consultório com o mesmo problema. Para
ele, a indústria precisa investir em medicamentos que possibilitem uma vida
normal para essas mulheres. “A melhora da qualidade de vida se faz necessária,
pois a endometriose pode aparecer desde a primeira menstruação e durar até a
última.”
Maioria
dos tratamentos é ineficaz para a dor
A
principal dificuldade das pacientes com endometriose é encontrar tratamentos
eficazes para o controle da doença e que, além disso, não provoquem fortes
efeitos colaterais. Alguns médicos optam pela cirurgia. No entanto, nem sempre
ela é recomendada.
“A
cirurgia é importante, mas o número de procedimentos precisa ser reduzido. Em
média, uma mulher que tem a enfermidade faz três ou mais cirurgias durante sua
vida fértil”, explica o ginecologista e professor da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) Carlos Alberto Petta. De acordo com ele, os outros
medicamentos também apresentam efeitos colaterais graves por serem
desenvolvidos a base de hormônios. Uma das drogas mais comuns induz à menopausa
da mulher para que os problemas com a menstruação acabem. Contudo, tem um
efeito colateral: leva a uma forte perda óssea.
Segundo
Petta, sempre que um novo remédio para endometriose é lançado, a discussão
sobre a doença precisa ser retomada. Desta forma, a Bayer Health Care
Pharmaceuticals convocou especialistas na área da ginecologia para discutir os
benefícios do seu novo medicamento, o Allurene, além de divulgar os dados do
estudo da SBE.
De
acordo com a empresa, este é o primeiro tratamento de longo prazo via oral e
desenvolvido especificamente para aliviar a dor da endometriose. Para o
lançamento, a Bayer fez uma pesquisa, durante um ano, para comprovar os
benefícios da fórmula. Os resultados mostraram que, passados 15 meses, ele
reduz consideravelmente o desconforto pélvico.
“Os
antigos remédios não permitiam o uso contínuo que o Allurene possibilita. O
último lançamento de um medicamento para a endometriose tinha sido há 25 anos.
O mercado ficou parado por todo esse tempo”, lembra Thomas Faustman, chefe da
Área Global para Assuntos da Mulher da Bayer.
Jornal do Comércio
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