segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Endometriose atinge uma a cada dez mulheres
Jessica Gustafson, de São Paulo 

A cólica menstrual é conhecida por praticamente todas as mulheres que estão em idade fértil. Por se tratar de um sintoma comum, muitas acabam não investigando um dos principais sinais da endometriose - doença que afeta uma a cada dez mulheres e que pode ter consequências graves, como a perda da fertilidade. Além da falta de informação, existem poucas opções de tratamento, sendo o mais comum a cirurgia para retirar as áreas mais afetadas.

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) com cinco mil mulheres acima de 18 anos mostrou que a maioria delas, em torno de 55%, não conhece os principais sintomas da enfermidade e nem como é feito o diagnóstico. O método mais eficaz atualmente para descobrir sua existência no útero é a laparoscopia.

“Fortes dores abdominais e pélvicas e desconforto durante o ato sexual podem ser indicadores da doença. A maioria das mulheres acaba tendo que se afastar com frequência do trabalho e do estudo devido à dor. Além disso, existem estudos que mostram a sua relação com problemas autoimunes e câncer”, explica o presidente da SBE, Maurício Simões Abrão. De acordo com ele, algumas pesquisas já relatavam queixas de mulheres sobre essas dores em 1739, contudo, apenas nas últimas duas décadas é que os estudos têm se intensificado. Hoje, este é o segmento mais analisado na área da ginecologia.

A endometriose, que se caracteriza pelo acúmulo de sangue menstrual na cavidade do abdômen e do útero, não tem cura, mas pode ser atenuada. Um dos principais problemas é o diagnóstico tardio, que acontece, em média, sete anos depois do seu surgimento. “As mulheres acham que os sintomas são normais e os médicos acabam não realizando exames específicos. Tanto as pacientes quanto os profissionais da saúde precisam de mais informação”, acredita Abrão. De acordo com ele, os medicamentos utilizados têm o objetivo de melhorar a qualidade de vida da mulher, pois, segundo a pesquisa, ela gera 38% de perda na produtividade no trabalho.

Francisco Carmona, chefe do Serviço de Ginecologia na Clínica e Hospital Barcelona, na Espanha, afirma que é preciso um novo olhar sobre a endometriose, no qual os médicos se preocupem mais com o bem-estar da mulher e com o controle da reincidência da doença. “Todos os sintomas causam sofrimentos físicos e psicológicos. Os diversos tratamentos existentes não combatem o reaparecimento. A perda da saúde sexual também deve ser considerada, pois isso causa angústia e ansiedade”, ressalta. Segundo ele, as pacientes acabam ficando com uma imagem negativa de si mesmas, o que pode levar à depressão.

De acordo com Carmona, o método mais comum de controle é a cirurgia. Entretanto, após três anos, a paciente retorna ao consultório com o mesmo problema. Para ele, a indústria precisa investir em medicamentos que possibilitem uma vida normal para essas mulheres. “A melhora da qualidade de vida se faz necessária, pois a endometriose pode aparecer desde a primeira menstruação e durar até a última.”

Maioria dos tratamentos é ineficaz para a dor

A principal dificuldade das pacientes com endometriose é encontrar tratamentos eficazes para o controle da doença e que, além disso, não provoquem fortes efeitos colaterais. Alguns médicos optam pela cirurgia. No entanto, nem sempre ela é recomendada.

“A cirurgia é importante, mas o número de procedimentos precisa ser reduzido. Em média, uma mulher que tem a enfermidade faz três ou mais cirurgias durante sua vida fértil”, explica o ginecologista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Alberto Petta. De acordo com ele, os outros medicamentos também apresentam efeitos colaterais graves por serem desenvolvidos a base de hormônios. Uma das drogas mais comuns induz à menopausa da mulher para que os problemas com a menstruação acabem. Contudo, tem um efeito colateral: leva a uma forte perda óssea.

Segundo Petta, sempre que um novo remédio para endometriose é lançado, a discussão sobre a doença precisa ser retomada. Desta forma, a Bayer Health Care Pharmaceuticals convocou especialistas na área da ginecologia para discutir os benefícios do seu novo medicamento, o Allurene, além de divulgar os dados do estudo da SBE.

De acordo com a empresa, este é o primeiro tratamento de longo prazo via oral e desenvolvido especificamente para aliviar a dor da endometriose. Para o lançamento, a Bayer fez uma pesquisa, durante um ano, para comprovar os benefícios da fórmula. Os resultados mostraram que, passados 15 meses, ele reduz consideravelmente o desconforto pélvico.

“Os antigos remédios não permitiam o uso contínuo que o Allurene possibilita. O último lançamento de um medicamento para a endometriose tinha sido há 25 anos. O mercado ficou parado por todo esse tempo”, lembra Thomas Faustman, chefe da Área Global para Assuntos da Mulher da Bayer.

Jornal do Comércio

Nenhum comentário:

Postar um comentário